Rede elétrica subterrânea tem eficácia questionada devido a problemas como alto custo e dificuldade de manutenção

  • 17/04/2024
(Foto: Reprodução)
Apagão recente em bairros no Centro de São Paulo foi causado por interferência nos fios enterrados, e a persistência do problema se deu pela dificuldade de acessar a rede; associação de prestadores de serviços do setor diz, no entanto, 'não existir um tipo de rede melhor que o outro'. Fios aterrados em obra na região da Bela Cintra Divulgação/TelComp No fim de março, bairros do Centro de São Paulo sofreram com diversos apagões em um período de quatro dias. Segundo a Enel, concessionária que administra a rede elétrica da cidade, as falhas aconteceram na rede subterrânea, e a demora para o retorno da energia foi causada pela dificuldade de acesso aos fios enterrados. A situação explicita uma das desvantagens deste tipo de rede: a demora na manutenção quando ocorre uma queda de energia. Atualmente, a cidade de São Paulo tem cerca de 20 mil km de fios aéreos, segundo a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecom Competitivas (TelComp). Menos de 0,3% da rede está totalmente subterrânea. No apagão de novembro, causado, principalmente, por quedas de árvores durante um vendaval intenso, especialistas ouvidos pelo g1 e pela TV Globo afirmam que a conversão da rede elétrica para subterrânea traria uma série de benefícios e evitaria quedas constantes de energia. Em conversa com a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecom Competitivas (TelComp) e diante de informações da Enel e da prefeitura, o g1 apurou que optar por esse tipo de instalação implica outros problemas. Nesta reportagem você vai ver: Falta de planejamento, alto custo e dificuldade de manutenção Problemas de mobilidade e atraso das obras Benefícios "Melhor rede" SP sem Fios Apagão Falta de planejamento, alto custo e dificuldade de manutenção Fiação enterrada na região da Bela Cintra Divulgação/TelComp Segundo o presidente da TelComp, Luiz Henrique Barbosa, para além da dificuldade de acesso, a grande desvantagem da rede subterrânea é a implementação dela, principalmente em uma cidade como São Paulo, que não teve o crescimento planejado. "A gente não pode deixar a cidade crescer de maneira desordenada porque depois essa falta de planejamento vai nos custar muito caro. No sentido monetário mesmo", destacou. "Seja porque se você não planejou, as soluções são mais custosas, ou você não consegue ter a melhor solução para as situações." A rede aterrada chega a ser de 11 a 20 vezes mais cara que a aérea e, pelos cálculos da TelComp, soterrar os 20 mil km de fiação elétrica em São Paulo teria um custo de R$ 81 bilhões. Em razão da falta de planejamento, Barbosa explica que, pela área subterrânea da cidade já estar ocupada com outros serviços, a rede elétrica que for implementada no lugar tem que ir desviando dos outros itens, o que faz com que ela não seja linear. "Como é feita uma rede subterrânea hoje [em cidades como São Paulo]? Às vezes, se usa um método chamado 'método não destrutivo' (MND), em que você não cava a vala. Você simplesmente faz o primeiro buraco, entra como se fosse um tatuzinho, e ele vai fazer a rede subterrânea do ponto A ao ponto B e subir no outro ponto", explica. "Então, entre esses pontos, você fez a rede subterrânea por uma sonda, e ela é a melhor rede possível, mas não é uma rede com galerias." Segundo Barbosa, isso é o que dificulta o acesso para reparos. Para ele, se o aterramento dos fios fosse feito em uma fazenda, por exemplo, sem o MND, os fios enterrados seriam fáceis de alcançar, porque a rede foi planejada. "Do ponto de vista de uma pessoa comum, é como se estivesse fazendo um grande novelo de lã", diz. Problemas de mobilidade e atraso das obras Ainda no sentido da implementação, o presidente da TelComp comenta sobre a dificuldade da realização das obras para migrar os fios. "A Avenida Santo Amaro está em obras e isso tem causado um impacto enorme na cidade, no cotidiano", comenta. "A prefeitura segurou licenças de outras regiões justamente para não causar um impacto maior." Segundo Barbosa, essas complicações acontecem porque toda a via tem que ser interditada para que o aterramento aconteça. "Na Alameda Santos, por exemplo, a gente faz uma intervenção e faz uma obra quase só de um lado da via, e assim você consegue acessar os dois lados." Ele explica ainda que as obras destinadas ao aterramento de fios só podem ser feitas em horários noturnos específicos - geralmente, entre as 20h e as 5h - e esses horários incomodam os moradores. Benefícios Os fios enterrados também apresentam benefícios. Em novembro do ano passado - logo após o apagão - o g1 explicou que o aterro da rede elétrica evitaria problemas como a queda de energia causada por temporais e a "mutilação de parte da floresta urbana", segundo o botânico e paisagista Ricardo Cardim. Além disso, a rede evita acidentes com cabos soltos e melhora a cidade esteticamente, já que os fios ficam ocultos. Porém, se engana quem acha que todos os postes seriam retirados nesse contexto. O representante da TelComp explica que, pela presença de outros serviços aéreos - como trólebus, redes de telefonia, semáforos e câmeras de monitoramento - não cabe só à concessionária de energia a retirada dos postes. A prefeitura, entretanto, considera a diminuição deles como uma das vantagens do aterramento dos fios. E se diz responsável pela mediação entre Enel, SP Regula, empresas de telecomunicação e SPTrans para estabelecer um acordo para a retirada de fios e postes da cidade. A gestão municipal e a Enel têm a meta de retirar 3.014 postes até o fim deste ano. Do início do programa SP sem Fios, em 2022, até a realização desta reportagem, apenas 746 foram removidos. 'Melhor rede' Para Barbosa, tanto a rede aérea quanto a subterrânea têm ônus e bônus. "Infelizmente, não existe a melhor solução ou solução única", afirma. "Em novembro, quando a gente teve a situação de crise, em que as chuvas derrubaram as árvores que derrubaram os fios, o senso comum dizia: 'Essa fiação tem que ser enterrada', mas a rede subterrânea, quando tem alagamento, não é acessada", diz. "Em certas situações, a rede aérea é mais robusta que a subterrânea." Por meio de nota, a Enel explicou que, "apesar da maior confiabilidade do fornecimento de energia proporcionada pelas redes subterrâneas, quando ocorrem falhas, o trabalho de recomposição do serviço é mais complexo, pois exige maior cuidado com as condições de segurança para que os técnicos possam atuar" (confira na íntegra abaixo). Já a prefeitura diz que há "vantagens urbanísticas para a capital, com a diminuição de postes, além de garantir mais segurança à população, diminuindo o risco de contato com cabos energizados". SP sem Fios Após diversas tentativas, que vão das gestões de José Serra (PSDB), em 2005, a João Doria (então no PSDB) em 2017, um projeto para enterrar os fios foi para frente. O SP sem Fios, que chegou a ter o nome "Cidade Linda Redes Aéreas" no governo Doria, mudou a meta anterior, de 52 km de fios enterrados, para 65 km em 2024. Até o momento, foram enterrados 42 km, e a previsão para o fim do ano aumentou para 84 km. Segundo a Telcomp, o planejamento só aborda mais 26 km de fios enterrados na região da Avenida Santo Amaro, de Bela Vista, Higienópolis e Santa Cecília - mesmo que parte desses bairros já tenham fiação subterrânea. Apagão No fim de março, 35 mil habitantes das regiões de Higienópolis, Santa Cecília e da Rua 25 de Março ficaram sem luz por dias devido a uma falha na rede que, segundo a Enel, ocorreu por "danos provocados em distintos circuitos subterrâneos" que ainda estão sendo apurados. Em um primeiro momento, a concessionária responsabilizou a Sabesp, mas, em entrevista ao SP2 da TV Globo, a empresa voltou atrás e disse ainda estar buscando a causa do problema. Em resposta ao g1, a concessionária confirmou que toda a rede afetada era subterrânea e reiterou a dificuldade de manutenção como justificativa para a persistência da falta de energia. O que diz a Enel A Enel Distribuição São Paulo esclarece que o padrão da rede elétrica no Brasil é de redes aéreas. Este padrão é adotado por todas as distribuidoras do país. O enterramento de cabos ocorre em casos específicos e seguindo critérios técnicos e econômicos quando o investimento é considerado prudente. Isso ocorre uma vez que, de acordo com artigo 110 da Resolução 1.000/202 do setor elétrico brasileiro, os investimentos realizados nas redes de distribuição no País devem prever a razoabilidade dos custos, pois são repassados às tarifas de energia de todos os consumidores nos processos de revisão tarifária das distribuidoras. Apesar da maior confiabilidade do fornecimento de energia proporcionada pelas redes subterrâneas, quando ocorrem falhas, o trabalho de recomposição do serviço é mais complexo, pois exige maior cuidado com as condições de segurança para que os técnicos possam atuar. A Enel Distribuição São Paulo esclarece que as ocorrências envolvendo a rede de distribuição subterrânea da companhia na região Central da cidade, na semana de 18 de março, demandaram uma reparação complexa e demorada, dadas as características desse tipo de rede (galerias subterrâneas). Nas regiões da 25 de março e da Santa Cecília, a última ocorrência registrada no dia 21 de março foi agravada pelo excessivo consumo de energia associado às elevadas temperaturas, o que dificultou a rápida recomposição das redes subterrâneas. Com relação ao projeto São Paulo sem fios, a distribuidora informa que já concluiu 100% da meta de enterramento da rede elétrica prevista no projeto inicial da Prefeitura de São Paulo, que previa o enterramento total de 74,8 km de redes, sendo 52,2 km no Centro, 12,9 km na região do Mercado Municipal e 9,7 km na Vila Olímpia. Em alguns locais, ainda há postes porque é necessário que as empresas de telecomunicações e a Prefeitura façam a remoção de suas redes, assim como as do sistema de Iluminação Pública e fiações de semáforo. Só após esta etapa, a Enel SP pode fazer a remoção dos postes. Atualmente, a Enel São Paulo possui 43 mil km de rede de distribuição em toda a área de concessão, sendo 40 mil km aérea e 2,6 mil km subterrânea. O que diz a prefeitura A Prefeitura de São Paulo informa que o Programa SP Sem Fios traz vantagens urbanísticas para a capital, com a diminuição de postes, além de garantir mais segurança à população diminuindo o risco de contato com cabos energizados. Todo o custo do programa é das partes envolvidas, sem ônus para o Município. A prestação de contas feita pelas empresas participantes, é referente ao andamento dos serviços e dos trabalhos executados na recomposição do espaço público. Vale relembrar que a Enel é uma concessão pública, a Prefeitura não possui nenhuma gerência em relação à concessionária. A gestão municipal é responsável por unir as concessionárias Enel, SP Regula, empresas de telecomunicação e SPTrans (por conta dos trólebus) e estabelecer um acordo para retirada dos fios e postes na cidade. Por meio da Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB), é realizado o cronograma e agendamento dos respectivos trabalhos, de acordo com a disponibilidade apresentada pelos envolvidos. Estão em execução ou foram enterrados 42.570,76 metros de fios, a previsão é de enterrar 84,98 km de redes aéreas na capital paulista. Com a retirada da fiação, mais 3.014 postes serão excluídos até dezembro de 2024. Atualmente, 746 já foram removidos. *Sob supervisão de Paula Lago

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/04/17/rede-eletrica-subterranea-tem-eficacia-questionada-devido-a-problemas-como-alto-custo-e-dificuldade-de-manutencao.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

Top 10

top1
1. Deus Proverá

Gabriela Gomes

top2
2. Algo Novo

Kemuel, Lukas Agustinho

top3
3. Aquieta Minh'alma

Ministério Zoe

top4
4. A Casa É Sua

Casa Worship

top5
5. Ninguém explica Deus

Preto No Branco

top6
6. Deus de Promessas

Davi Sacer

top7
7. Caminho no Deserto

Soraya Moraes

top8
8.

Midian Lima

top9
9. Lugar Secreto

Gabriela Rocha

top10
10. A Vitória Chegou

Aurelina Dourado


Anunciantes